MÃE E CRIANÇA NÃO ORALIZADA: PARCEIRAS DE COMUNICAÇÃO NO BRINCAR

Profa. Dra. Regina Yu Shon Chun

Fonoaudióloga, Docente da Universidade Estadual de Campinas e

Membro da ISAAC-Brasil

Fonte: Arquivo pessoal, imagens autorizadas.

Como conversar com quem não fala?

A tendência nessa situação é falar e responder pela criança, fazer perguntas do tipo “sim” e “não” e oferecer, de modo geral, poucas oportunidades de incentivo e diálogo, como se o “não falar” significasse que a criança não entende o que lhe é dito ou que ela não possa se manifestar de outras formas como, por exemplo, por meio de gestos, olhar, apontar, sorrir, chorar ou puxar o interlocutor, além do uso de recursos de Comunicação Suplementar e Alternativa, comunicando o que deseja e sente. Dentre as crianças com prejuízo da oralidade, encontram-se aquelas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Apraxia de Fala na Infância (AFI) e com a denominada Síndrome Congênita pelo Zika Vírus (SCZV).

O surgimento do vírus Zika, em nosso país, no final de 2015 e início de 2016, colocou essa situação em condição de emergência de Saúde Pública, sendo que manifestações clínicas do recém-nascido como microcefalia e outros sinais de comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor, nas áreas motora, social e de linguagem foram associadas à exposição ao vírus na gestação, o que tem gerado inúmeros estudos e pesquisas dessa temática, desde então.

Participamos de um Projeto de Cooperação Internacional – Brazil Communication Kids, com o Dr. Samuel Sennott da Portland State University, nos EUA, aprovado pelo Comitê de Ética de ambas Universidades com apoio da CAPES  Print, no Brasil, que visa investigar os modos de interação linguística da díade mãe/cuidadora, profissional e criança com SCZV nos contextos do brincar, contar histórias e de conversação livre de uma cidade da região metropolitana de Salvador, Bahia, com a participação de alunos da graduação e do pós-graduação da UNICAMP e do grupo de pesquisa do Dr Samuel, além da fisioterapeuta, Graciele Nobre, da cidade de origem das crianças e de suas famílias.

Resultados preliminares importantes mostram que o brincar se evidencia como um contexto bastante favorável ao diálogo entre a díade e à expressão da criança, diferentemente do conversar e do contar histórias, no grupo estudado. No brincar, a mãe/cuidadora se insere como parceira de comunicação de forma mais lúdica e prazerosa com sua criança, desenvolvendo a interação, com menor expectativa do falar, como na conversa, em que as interlocutoras parecem esperar mais por respostas orais da criança e diante do silêncio, ou da não resposta, ocupam seu espaço, falando por elas. No contar histórias, observa-se que as parceiras parecem esperar menos manifestações linguísticas da criança, constituindo uma interação mais passiva.

Como mostra a literatura, nacional e internacional, para favorecer a linguagem e interação da criança não oralizada, como nesses casos, e quando se utiliza a Comunicação Suplementar e/ou Alternativa, assume grande relevância, presumir competência da criança como falante da língua, ser uma/um parceira/o de comunicação flexível e persistente na situação linguística, conversar e sempre oferecer oportunidades de diálogo e de interação, além de valorizar e incentivar toda e qualquer forma de comunicação da criança, engajando-a na situação de interação linguística e social. Converse bastante e sempre com a criança, ouvindo-a com atenção e procure estar atenta/o a toda e qualquer manifestação de sua parte. Agradecemos a todas e todos envolvida/os no projeto.

Dica de leitura: Key values of a good communication partner. Disponível em https://www.assistiveware.com/learn-aac/build-communication-partner-skills.   Acesso em 18/04/2022.

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