Letramento para Pessoas com Necessidades Complexas de Comunicação

Organizado por Renata Bonotto

Um dos aspectos que primeiro me atraiu para a área da CAA foi me deparar com as experiências de adolescentes autistas que haviam encontrado o caminho para comunicação plena por meio da escrita e da digitação, exemplos como o da canadense Carly Fleischmann e do indiano Tito Rajarshi Mukhopadhyay que possui, inclusive, livros publicados.
Hoje, temos exemplos incontáveis de pessoas com necessidades complexas de comunicação que por meio da tecnologia de modo geral e da Tecnologia Assistiva, mais especificamente, estão conseguindo se expressar por meio da escrita e aproveitando as possibilidades que a leitura oferece. 
Ler e escrever é uma das capacidades mais importantes no mundo moderno. Em última análise, é a escrita que pode levar a pessoa à plena autonomia para se comunicar. 
Historicamente, no entanto, o letramento para pessoas com necessidades complexas de comunicação está cercado de mitos, sendo os dois mais ultrapassados:


a)       a crença de que é necessário falar para poder se alfabetizar
b)      a crença de que há habilidades pré-requisitos para uma pessoa aprender a ler, escrever e se comunicar.


Sabemos, porém, que pessoas que não usam a fala se alfabetizam – podemos lembrar aqui que pessoas surdas aprendem a ler e a escrever, por exemplo. A consciência fonológica, uma das áreas importantes do processo, por exemplo, pode se desenvolver mesmo na ausência da fala. Quanto a pré-requisitos, necessitamos encontrar formas de acessibilidade para ter contato com materiais e textos e ferramentas para a escrita. Aparentes limitações, ao invés de serem vistos como impossibilidades, devem nortear a busca por alternativas de acessibilidade à informação e comunicação como, por exemplo, conversores de texto em voz e de voz em escrita, assim como ferramentas de escrita variadas como teclados adaptados, com alto contraste, braille, teclas maiores e coloridas etc.”
De acordo com Erickson e Koppenhaver (2019), as pesquisas que indicam que 10 fatores estão associados ao sucesso na aprendizagem da leitura e da escrita de estudantes que experimentam deficiências significativas:


1.       Parceiros bem informados
2.       Disponibilidade de um meio de comunicação e interação
3.       Repetição com variedade
4.       Engajamento (ao pensar sobre a tarefa)
5.       Clareza (sobre o que precisa ser feito)
6.       Conexão pessoal 
7.       Incentivo/Encorajamento para assumir riscos
8.       Ensino abrangente
9.       Alocação significativa de tempo
10.   Altas expectativas


1.   Parceiros de comunicação bem informados.
2.   Um meio de comunicação e interação à disposição – aqui entra a CAA e o acesso ao alfabeto.
3.   Repetição com variedade.
4.   Engajamento (nas atividades que envolvem leitura e escrita).
5.   Clareza (sobre o que precisa ser feito).
6.   Conexão pessoal com um currículo (materiais significativos e adequado à idade e interesses do aluno).
7.   Incentivo/encorajamento para assumir riscos (as pessoas com deficiência têm consciência de suas dificuldades e podem ter alguma lembrança negativa sobre tentativas passadas. Assim, é necessário criar um ambiente estimulante, acolhedor e seguro para todos os alunos).
8.   Ensino abrangente (por um lado, os alunos aprendem de formas diferentes, portanto, o ensino deve levar esses aspectos em conta enquanto também são estimuladas habilidades que levam ao crescimento e refinam habilidades. Não basta apenas saber ler e escrever as palavras isoladas e descontextualizadas, mas saber utilizá-las em contextos diversos).
9.   Alocação significativa de tempo para o ensino e vivências envolvendo a leitura e a escrita).
10.   Altas expectativas (é preciso acreditar que todos podem aprender a ler e a escrever).


Uma pergunta recorrente diz respeito à idade mais apropriada para iniciar o trabalho em alfabetização/letramento de uma pessoa com deficiência e/ou necessidades complexas de comunicação. Não parece razoável que a idade seja a mesma que a de qualquer outra criança? E, quando se trata de adolescentes, jovens ou adultos, o melhor é começar logo. A hora é já! Aqui também é importante lembrar que atividades simples e cotidianas como ler livros, placas, receitas, rótulos, etc. contribuem para o processo de letramento. 
Os recursos de CAA oferecem estímulos adicionais e podem colaborar grandemente para a alfabetização. Assim como as práticas de letramento abrem caminho para mais interações significativas e mais comunicação. Por todos esses aspectos, qualquer sistema de CAA deve prover acesso ao alfabeto e a possibilidades de escrita por meio de recursos de baixa ou alta tecnologia. 


É possível: Presuma Potencial. 


Quem sou eu?

Meu nome é Renata. Sou linguista, atuo em assessoria e consultoria sobre Tecnologia Assistiva com ênfase em Tecnologia Assistiva/Comunicação Aumentativa e Alternativa. Tenho mestrado em Linguística Aplicada e doutorado em Informática na Educação com ênfase em Comunicação Aumentativa e Alternativa. Meu filho mais novo, Vinícius, tem 14 anos e usa CAA.


Referências:
Erickson, Karen & Koppenhaver, David. (2019). Comprehensive Literacy for All: Teaching Students with Significant Disabilities to Read and Write. Baltimore: Brookes Publishing.

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