Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) para crianças com Apraxia

Por Dyann F. Rupp, MS, CCC-SLP
Traduzido por Renata Bonotto

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Este tema tem se tornado cada vez mais frequente à medida que os pais e cuidadores se tornam mais conscientes dos benefícios e resultados positivos da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA). Minha opinião sobre este tema é que a CAA é uma indicação apropriada desde o início da intervenção.

A Associação Americana de Terapia de Fala e Linguagem (ASHA) define a CAA como “um conjunto de procedimentos e processos pelos quais as habilidades de comunicação de um indivíduo (ou seja, habilidades de expressão e compreensão) podem ser maximizadas de modo a alcançar uma comunicação funcional e eficaz. Em outras palavras, a CAA inclui qualquer forma de comunicação diferente da fala que permite ao usuário se comunicar em seu entorno.”

Light (1988) identificou quatro funções, ou propósitos, principais da comunicação.

 Esses incluem:

  • A expressão de desejos e necessidades;
  • O intercâmbio de informações;
  • Proximidade social, e
  • Etiqueta social.

Crianças com desenvolvimento típico usam a fala para navegar nessas áreas. Quando a fala não é suficiente para atingir os objetivos comunicativos da criança, é necessário que a criança encontre uma forma de preencher essas lacunas. Em termos de expressar desejos e necessidades, a CAA é uma boa ponte entre a necessidade de comunicar uma mensagem e, de fato, compartilhar o sentido que deseja expressar a outra pessoa. As crianças podem usar gestos naturais, língua de sinais, um livro de comunicação, um símbolo (imagem, fotografia, desenho, etc.) e/ou um dispositivo com vocalizador para compartilhar suas intenções. A troca de informações torna-se essencial em um ambiente escolar. O professor requer que a criança interaja em sala de aula fazendo/respondendo perguntas, participando de grupos de aprendizagem colaborativa e usando uma linguagem cada vez mais complexa. Essa troca de informações mostra ao professor que a criança atingiu os níveis de conhecimento esperados nas várias fases de desenvolvimento. Por exemplo, uma criança que não consegue dizer a letra s terá dificuldades em indicar que aprendeu o conceito de plurais. Essa mesma criança seria facilmente capaz de demonstrar o uso de plurais usando CAA. 

À medida que as crianças amadurecem, as necessidades de se comunicar se multiplicam com as oportunidades. Os ambientes sociais tornam-se mais diversos e cheios de parceiros de comunicação. Tornar as interações de comunicação funcionais e eficazes assume maior importância devido ao acréscimo dessas influências sociais. 

É provável que as famílias encontrem fonoaudiólogos que optem por se concentrar na fala em detrimento da comunicação geral. O foco na fala não está errado por si só. Todos nós queremos que nossos filhos usem a fala natural. No entanto, todos na equipe da criança (incluindo pais e colegas) precisam dar um passo atrás e realmente olhar para a capacidade da criança de se comunicar funcionalmente em seus vários ambientes. Concentre-se naquilo que a criança consegue comunicar. Pense o seguinte: se o progresso da terapia é lento, quanto tempo você está disposto a esperar até que a criança se comunique? Passar o tempo do jardim de infância inteiramente sem falar? O primeiro ano? Há uma diferença real entre inteligibilidade (quão compreensível uma criança consegue ser usando só a fala) e compreensibilidade (que leva em conta a fala junto com o contexto). Algumas estratégias de CAA contextualizam a interação e isso pode ser suficiente para apoiar a comunicação da criança. Essas estratégias podem incluir a complementação com o alfabeto (primeira letra), indicando o tópico que está sendo discutido, indicando uma mudança no tópico, etc. Uma avaliação para determinar as necessidades de uma criança em particular é inestimável para determinar os melhores apoios de CAA.

Ao discutir a CAA, uma das primeiras preocupações expressas pelos pais e cuidadores é que o uso da CAA pode impedir a criança de falar ou atrasar ainda mais o desenvolvimento da fala natural. Em resposta, refiro-me ao excelente artigo Cumley (2001) incluído no site da Apraxia -KIDSSM. Sua pesquisa demonstrou que a CAA não impede uma criança de usar a fala para se comunicar, se e quando for eficaz para ela. Além disso, à medida que a fala vai se tornando cada vez mais o principal modo de comunicação (com o desenvolvimento da fala natural funcional), as ferramentas e estratégias de CAA serão gradualmente substituídas por outras estratégias comunicativas da criança. Na verdade, a criança deixará o uso da CAA por conta própria, quando a fala se tornar mais eficaz e eficiente.

Se você decidiu explorar a CAA como um meio de ajudar seu filho a se comunicar hoje, este é um processo especializado com muitas etapas. Procure um fonoaudiólogo com experiência/ conhecimento em CAA. No sistema escolar, esses especialistas são frequentemente encontrados em uma equipe de Tecnologia Assistiva. O atual fonoaudiólogo de seu filho deve ajudá-lo neste processo. Se você preferir obter acessar este na comunidade, é importante entrar em contato com as clínicas para garantir que (1) o fonoaudiólogo tenha experiência em CAA, e (2) durante uma avaliação, seu filho tenha a oportunidade de interagir com diversos tipos de dispositivos de diferentes fabricantes. Isso garantirá que o dispositivo que melhor atenda às necessidades dele seja selecionado.

Temos a expectativa de que as crianças com apraxia usem a fala natural como o principal meio de comunicação algum dia. Nesse ínterim, faz sentido usar a CAA como um meio de comunicação (ou de suplementação da comunicação) para ajudar no desenvolvimento da linguagem e reduzir a frustração de seu filho. O uso de CAA não altera a necessidade de tratamento intensivo e frequente da fala. Ele apenas fornece um meio de preencher a lacuna entre interações comunicativas eficazes e ineficazes. Embora nunca percamos de vista nosso objetivo final com a fala natural, também precisamos pensar sobre uma comunicação adequada e funcional hoje.

Recursos

 

American Speech-Language-Hearing Association. “Augmentative and Alternative Communication: Knowledge and Skills for Service Delivery.” ASHA Supplement 22 (2002): 97-106.

Beukelman, David R., & Pat Mirenda, eds. Augmentative and Alternative Communication: Management of Severe Communication Disorders in Children and Adults. Baltimore, Maryland: Paul H. Brookes Publishing Co., 1998.

Caruso, Anthony A. and Edythe A. Strand, eds. Clinical Management of Motor Speech Disorders in Children. New York: Thieme Medical Publishers, Inc., 1999.

Cumley, Gary D. Children With Apraxia and the Use of Augmentative and Alternative Communication. Apraxia-KIDS. 2001 https://www.apraxia-kids.org/slps/cumley.html.

Dowden, P. “Augmentative and Alternative Communication Decision Making for Children with Severely Unintelligible Speech.” Augmentative and Alternative Communication 13 (1997): 48-58.

Light, J. “Interaction Involving Individuals Using Augmentative and Alternative Communication Systems: State of the Art and Future Directions.” Augmentative and Alternative Communication 4 (1988): 6-82.

Sobre a autora do texto:

Dyann F. Rupp, M.S., CCC-SLP é fonoaudióloga no RiteCare Clinic of the Scottish Rite Masons em Lincoln, Nebrasca. Tem mestrado pela Universidade de Nebrasca – Lincoln and trabalha como fonoaudióloga e especialista em Tecnologia Assistiva nos contextos da clínica e da escola. E-mail: drupp2@unl.edu.

© Apraxia-KIDS℠ – A program of The Childhood Apraxia of Speech Association (Apraxia Kids)
www.apraxia-kids.org

Fonte:

https://www.apraxia-kids.org/apraxia_kids_library/what-about-sign-language-speech-tablets-and-other-communication-forms/  Acesso em 04/05/2021

Traduzido por Renata Bonotto, Linguista e Doutora em Informática na Educação com pesquisa e atuação na área de Comunicação Aumentativa e Alternativa.

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3 comentários em “Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) para crianças com Apraxia”

  1. Daniela Alves Ferreira

    Boa noite, gostei muito do artigo, mas como professora de AEE da Rede Pública de São Paulo, ressalto que os meus estudantes com necessidades complexas de comunicação não fazem uso da CAA durante as sessões de fonoterapia, infelizmente. Sinceramente, na minha região, não conheço profissionais que fazem uso da CAA durante atendimento.

    1. Olá Daniela, a CAA pode (e deve) ser utilizada por professores. Na área de materiais para downloads, há pranchas prontas que você poderia usar com seus alunos, dá uma conferida. Importante lembrar que CAA é um recurso de acessibilidade (à comunicação), não é necessariamente terapia.

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