CAA E SÍNDROME DE DOWN

21 de março

Imagem desenvolvida por Freepik

Escrito pela fonoaudióloga Adriana Peres

Olá, eu sou a Adriana Peres, fonoaudióloga clínica e sou apaixonada pela intervenção em linguagem com o auxílio da CAA no atendimento de crianças, jovens e adultos com necessidades complexas de comunicação (NCC).

Hoje é o dia internacional da SD que tem como importantes objetivos celebrar a vida das pessoas com a síndrome e lutar contra o capacitismo. São realizadas ações em todo o mundo com o objetivo de conscientizar a sociedade para que elas tenham os mesmos direitos e oportunidades de qualquer pessoa.

É um momento oportuno para falarmos sobre o uso da Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) nesta população, uma vez que para algumas pessoas com SD ele pode ser fundamental para garantir o DIREITO à comunicação, favorecer sua integração social e possibilitar uma vida com mais autonomia.

Pessoas com SD podem apresentar dificuldades para resolver seus desafios diários de comunicação devido a uma associação de fatores. Além do comprometimento intelectual podem ter alterações em suas habilidades auditivas, visuais e táteis, na memória de curto prazo e no prejuízo da inteligibilidade de fala, que pode envolver não só os aspectos motores da fala, mas também incluir vários aspectos linguísticos. A falta de oportunidades e estímulos adequados à idade da pessoa com SD também pode contribuir para os problemas de comunicação bem como para o atraso no seu desenvolvimento global. Poderia citar vários outros aspectos mas quero focar nossa conversa não nas dificuldades que a pessoa com SD pode encontrar para se comunicar e interagir mas no quanto poderá se beneficiar do uso de recursos e estratégias de CAA nas diferentes fases de sua vida.

O uso de recursos e estratégias de CAA pode favorecer a aquisição e desenvolvimento de fala e linguagem da criança com SD, sua inclusão escolar e seu processo de letramento e alfabetização. A entrada de jovens e adultos no mercado de trabalho e o enfrentamento dos desafios do envelhecimento frente ao declínio cognitivo desta fase também podem ser beneficiados.

O uso da CAA no atendimento de pessoas com SD vem crescendo na prática clínica no Brasil. Esse tema tem sido cada vez mais frequente em cursos, aprimoramentos e congressos. Além disso, os fonoaudiólogos têm recebido cada vez mais crianças pequenas para intervenção de linguagem com o uso de CAA encaminhadas por outros colegas, médicos pediatras, neurologistas e até psiquiatras. As famílias também têm buscado conhecer melhor essa abordagem devido à uma maior divulgação da área. Isso é motivo de comemoração, mas sabemos que ainda há um número muito maior de pessoas que poderia se beneficiar. O mito de que o uso da CAA interfere no desenvolvimento da fala ainda é muito presente embora vários estudos científicos e nossa prática clínica evidenciem o contrário. Isso faz com que muitas vezes familiares e até mesmo alguns profissionais façam um grande investimento no desenvolvimento e evolução da fala e a intervenção em linguagem com o apoio da CAA é visto como última alternativa.

Vale ressaltar que no caso dos transtornos motores de fala é fundamental o acompanhamento de um fonoaudiólogo com expertise nesta área para um trabalho específico. Nesses casos, usar CAA não garante a evolução da fala. Da mesma forma, falar, “articular palavras” não é garantia de uma boa comunicação. Em alguns casos, mesmo se comunicando oralmente, uma pessoa com SD pode se beneficiar do uso de CAA principalmente em ambientes e contextos com parceiros de comunicação não familiares ou quando existem importantes desafios no uso da linguagem.

Na minha opinião o trabalho deve ser realizado de forma conjunta. Nossa comunicação é multimodal, fazemos uso de gestos,expressões faciais, escrita, desenhos, etc., além da fala. Até quando esperar pela fala? A comunicAÇÃO tem pressa. Precisamos proporcionar uma forma de comunicação que garanta as necessidades da pessoa com SD bem como favorecer sua linguagem. Comunicação, fala e linguagem caminham juntas.Na minha prática clínica atendo pessoas com SD em diferentes fases da vida que usam CAA e me encanto com cada uma que passa a fazer suas próprias escolhas, expressar seus sentimentos e desejos, “tirar sarro da terapeuta”, fazer surpresas, conhecer novos lugares, realizar sonhos e, principalmente, ser autora do seu próprio discurso.

Meu desejo neste dia é que possamos ACREDITAR no POTENCIAL das pessoas com Síndrome de Down. Que sejamos ponte para que elas atinjam seus objetivos pessoais, que estejam onde querem estar, fazendo o que tem sentido para elas e não o que nós queremos que façam. Isso depende muito menos delas do que dos recursos e ferramentas e oportunidades que, cada um de nós, seus parceiros de comunicação, lhes oferecemos. Essas pessoas precisam ser vistas além do diagnóstico. Ele faz parte da pessoa mas não pode defini-la. Rótulos e preconceitos precisam ser derrubados.Tenho muitas histórias lindas para contar que a CAA ajudou a escrever mas isso fica para outra oportunidade 🌻.

Esse texto foi escrito pela Fonoaudióloga Adriana Peres para o projeto “CAA e o mês da Conscientização” da Associação Comunicatea.

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